“... Uma história de
amor
Não tem sim nem não
E nem se pode explicar
Numa simples canção ...”
Não tem sim nem não
E nem se pode explicar
Numa simples canção ...”
Quem não lembra dos
versos da canção Uma História de Amor,
que estourou no ano de 1995, na voz do grupo Fanzine? O instrumental dessa música (tan, tan, tan...), anunciava:
estamos apresentando ou voltamos a apresentar a novela “História
de Amor”, de Manoel Carlos e que foi exibida às 18:00h no mesmo ano de
lançamento dessa música, na Rede Globo.
Na época, eu tinha
15 anos e vivia minhas subversões de início de adolescência, cada vez mais
ligado em novelas. Eu entrava naquele mundo e ficava como que em transe,
vivendo aquelas situações. Já era apaixonado pela Regina Duarte (meu primeiro
conflito com meu grande amor, que não gosta dela rs. Mas... dizem que os
opostos se atraem, não?) e a dobradinha dela como protagonista da novela do Maneco, não me permitia perder um
capítulo sequer da história. Regina era Helena (nome icônico das protagonistas
do meu autor preferido e a primeira das três que interpretou), uma mulher
simples e que se apaixonava por Carlos (José Mayer), um médico rico e
comprometido. A partir daí, iniciava-se o desenrolar de uma doce, forte e
intensa história de amor...
Diferenças de
personalidades, compromissos chegando ao fim para iniciar novas histórias e até
o nome da banda Fanzine, tem ligação com o capítulo sete da minha história da
vida real. Capítulo este que dedico àquela pessoa que considero meu grande e
único amor da vida. Minha alma gêmea, minha cara metade. Até chegar a essa
conclusão, foram anos de conflitos (internos e externos). Afirmação e
reafirmação. Revolta, sofrimento, desgaste, desilusões. E a crença de que nunca
eu iria me “juntar” a alguém para viver o resto dos meus dias. Afinal, eu era
muito onipotente e eu mesmo me bastava. Um comportamento muito mais de defesa por
tudo que sofrera até ali, do que um sentimento de soberba. E eis que o destino
me pregou uma peça, que neste mês de abril de 2018, completou 10 anos de
existência.
Mas, vou tentar
trazer pra vocês um pouquinho dessa história, que diferente dos outros
capítulos, terá pouquíssima narrativa, mas um toque mais forte do que eu sinto.
Era abril de 2008,
quando numa boate, já exausto depois de muito me divertir e namorar, meu último
olhar da noite cruzou com aquela figura. Pensei de cara: “Uau! Meu número! ”
Fui atrás pra dar aquela investida
querendo fechar a noite com chave de ouro. Passei várias vezes em sua frente,
pelos lados, por trás e nada da figura me notar... (tempos depois descobri a
sua dificuldade de enxergar no escuro, por causa do alto grau de miopia rs).
Lembro como se fosse hoje como era, inclusive, a blusa que vestia: de malha com
mangas curtas, listrada em vermelho, azul marinho e branco e com a marca
bordada discretamente no peito (não farei propaganda aqui!). Já estava quase
desistindo, quando finalmente nos esbarramos e, naquele escuro (que dessa vez
não fora proposital), nossas mãos se tocaram, como se tivessem a necessidade de
reconhecer alguém que estavam ávidas à procura. Uma espécie de encontro
predestinado, entendem?
E dentro da magia
daquele encontro, resolvemos ir embora juntos. Caminhamos bons quilômetros
falando sobre tudo: trabalho, família, pretensões e decepções amorosas,
futuro... Combinamos de nos ver dias depois. E, eu, que morava na zona oeste da
cidade (Campo Grande), sugeri que nos encontrássemos na zona norte (Madureira)
- e que tempos depois descobri que ele detestava o lugar kkkkkk. Um aparte
explicativo: Madureira é um bairro completamente contramão de onde morávamos. Partimos
à uma pizzaria do shopping (e que recentemente, dez anos depois, sentamos em
frente à ela para comemorar nosso aniversário) e sem nos tocar em público,
namorávamos com o olhar. Era tudo tão diferente de tudo, de todos... e tomado
por um súbito impulso fiz um pedido: “quer namorar comigo?” e com um sorriso no
rosto recebi um “Sim, porque não?”
O primeiro ano foi
um dos mais difíceis. Eu era a perfeita incorporação da Paula (personagem da
Carolina Ferraz na novela). Possessivo, chato, controlador. Não acreditava nas suas
infindáveis reuniões de trabalho, queria atenção 24 horas por dia. Já estava
prestes a instaurar uma crise que certamente culminaria com o fim da relação
quando aconteceram duas coisas muito boas profissionais pra mim: fui promovido na empresa em que trabalhava há anos e ao
mesmo tempo fui empossado em um cargo público. Minha euforia deu um freio
naquele comportamento inseguro e comemoramos a valer pelas semanas seguintes. A
calmaria voltava, quando eu, por questões minhas decidi que precisaria me
afastar, pedindo o fim do romance. Também lembro como se fosse hoje: estávamos
em uma lanchonete discutindo os “meus porquês” para justificar aquele término e
as lágrimas rolando de ambos os rostos, sem poder nos abraçar ou nos afagar em
público. Era angustiante, pois nossos corações já estavam entrelaçados. E ali,
tive minha maior prova de amor. “Sim, vamos enfrentar o que for juntos!” –
foram as palavras que ouvi. Chorei mais ainda e ali, tinha certeza de que
aquela era a pessoa que sempre procurei.
Nestes dez anos de
convivência, claro que tivemos pequenas rusgas, e até brigas. Mas eu me arrisco
a dizer que foram menos de 5 discussões realmente sérias. Mesmo sendo tão
diferentes, dificilmente nos desentendemos. Pelo contrário. Nos percebemos pelo
tom da voz, pela forma de olhar e até mesmo pelo jeito de andar. Falar de
histórias vividas nestes dez anos é ser repetitivo pois temos, literalmente,
uma rotina de comercial de margarina (graças a Deus!). Dizem que falar de amorzinho
perfeito em público e para o público é querer afirmar algo que não é
verdadeiro. Já eu, penso o contrário. Num mundo tão cheio de violência, egoísmo
e ódio, propagar o amor é uma dádiva. É reforçar laços de que viemos nesse
mundo para praticar o bem, a caridade e bons sentimentos. Nosso melhor hobby –
depois de viajar, claro! – é deitar no sofá e fazer cafuné vendo TV, até que as
pálpebras pesem e o sono tome conta do corpo. A sinfonia do ronco é suavizada
pelos afagos contínuos nos cabelos e de uma música que elegemos como nossa
trilha sonora:
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez
Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você”
Que hoje eu quero fazer tudo por você”
Amar é isso. É velar
e orar pelo bem-estar do outro sem querer nada em troca. É se sentir bem com o
bem do outro. É apoiar o sucesso e os projetos do outro. Um músico e um ator.
Um jornalista e um advogado. Um Sagitariano e um Leonino. Um aparecido e um
comedido. Um que cozinha e um que lava a louça. Um que gasta dinheiro com
livros e outro com roupas. Um que gosta de rock e um que gosta de axé. Mas os
dois gostam de samba. Os dois gostam de escrever. Os dois gostam de viajar. Os
dois se ensinam e se apoiam mutuamente. Até hoje somos o mesmo casal bobo de 10
anos atrás. Até hoje, temos um dia eleito para o “jantar do amor”, onde cozinhamos
e brindamos por tudo que juntos construímos e que ainda estamos aprendendo. E
como aqueles casais emblemáticos das novelas que tanto amo, temos nossa trilha
sonora (que ilustra o link ao final dessa narrativa). A letra da música é
exatamente a história da nossa vida, da nossa rotina. É como se nela retratasse
tudo que vivemos até hoje, o que temos vivido ainda e o que certamente iremos
viver até o fim de nossos dias.
Nossas viagens, a
compra do nosso apartamento e os “openhouses” (que acontecem até hoje, pois
nosso apê é pequenininho para receber tantos amigos queridos) e até o pedido de
casamento quando completamos 10 anos de relacionamento foram e continuarão
sendo disseminados em imagens e vídeos. Os supersticiosos (sim, porque além dos
que não acreditam no amor verdadeiro e debocham que somos fake – coitados! -,
existem os que tem crença em olho gordo), dizem para não fazermos propaganda ou
expormos conquistas e planos, pois isso pode atrair más energias. Mas acho que
nosso sentimento é tão forte que criou uma barreira que repele tudo isso.
Lembro como se fosse
hoje, há dois meses, estávamos no topo da torre Eiffel, vendo Paris de cima,
quando ouvi:
- Você está feliz?
- Sim, muito! –
respondi com um sorriso no rosto e nariz vermelho do frio
- Mas você queria
casar né?
- Sim. Mas eu
entendo. Isso é uma mera formalidade. Já nos provamos tudo que precisávamos.
- Mas eu queria te
dar isso...
E as suas mãos se
abriram com um par de alianças!
O nariz a essa hora
estava vermelho não só pelo frio, mas pela emoção conjugada às lágrimas que
caiam incessantemente de meu rosto.
E num abraço
apertado, sacramentamos ali nossa parceria e rezamos. E agradecemos.
Depois disso... bem...
depois disso, voltamos à nossa rotina, aos cafunés depois de um dia intenso de
trabalho, aos beliscões um no outro quando falamos alguma bobagem acompanhados
de gargalhadas até a barriga doer. E aos abraços nos momentos de falta de
estimulo no trabalho, em nossos projetos, ou mesmo uma tristeza do dia-a-dia...
E é nesse abraço que me acalmo e me refaço. Como se fosse uma fonte de energia
infindável que se renova e reforça cada dia que passa essa... HISTÓRIA DE AMOR...
Dedico esse capítulo
ao meu grande e único amor.
Quer nos conhecer?
Ouça e preste atenção nessa música do Renato Russo – O mundo anda tão complicado. Ela traduz em pouco mais de três minutos toda a nossa vida. Que seu dia e sua vida, caro leitor, se inunde de amor!