sábado, 5 de maio de 2018

Minha Vida: Capítulo 7: "HISTÓRIA DE AMOR"



“... Uma história de amor
Não tem sim nem não
E nem se pode explicar
Numa simples canção ...”

Quem não lembra dos versos da canção Uma História de Amor, que estourou no ano de 1995, na voz do grupo Fanzine? O instrumental dessa música (tan, tan, tan...), anunciava: estamos apresentando ou voltamos a apresentar a novela “História de Amor”, de Manoel Carlos e que foi exibida às 18:00h no mesmo ano de lançamento dessa música, na Rede Globo.

Na época, eu tinha 15 anos e vivia minhas subversões de início de adolescência, cada vez mais ligado em novelas. Eu entrava naquele mundo e ficava como que em transe, vivendo aquelas situações. Já era apaixonado pela Regina Duarte (meu primeiro conflito com meu grande amor, que não gosta dela rs. Mas... dizem que os opostos se atraem, não?) e a dobradinha dela como protagonista da novela do Maneco, não me permitia perder um capítulo sequer da história. Regina era Helena (nome icônico das protagonistas do meu autor preferido e a primeira das três que interpretou), uma mulher simples e que se apaixonava por Carlos (José Mayer), um médico rico e comprometido. A partir daí, iniciava-se o desenrolar de uma doce, forte e intensa história de amor...

Diferenças de personalidades, compromissos chegando ao fim para iniciar novas histórias e até o nome da banda Fanzine, tem ligação com o capítulo sete da minha história da vida real. Capítulo este que dedico àquela pessoa que considero meu grande e único amor da vida. Minha alma gêmea, minha cara metade. Até chegar a essa conclusão, foram anos de conflitos (internos e externos). Afirmação e reafirmação. Revolta, sofrimento, desgaste, desilusões. E a crença de que nunca eu iria me “juntar” a alguém para viver o resto dos meus dias. Afinal, eu era muito onipotente e eu mesmo me bastava. Um comportamento muito mais de defesa por tudo que sofrera até ali, do que um sentimento de soberba. E eis que o destino me pregou uma peça, que neste mês de abril de 2018, completou 10 anos de existência.

Mas, vou tentar trazer pra vocês um pouquinho dessa história, que diferente dos outros capítulos, terá pouquíssima narrativa, mas um toque mais forte do que eu sinto.

Era abril de 2008, quando numa boate, já exausto depois de muito me divertir e namorar, meu último olhar da noite cruzou com aquela figura. Pensei de cara: “Uau! Meu número! ” Fui atrás pra dar aquela investida querendo fechar a noite com chave de ouro. Passei várias vezes em sua frente, pelos lados, por trás e nada da figura me notar... (tempos depois descobri a sua dificuldade de enxergar no escuro, por causa do alto grau de miopia rs). Lembro como se fosse hoje como era, inclusive, a blusa que vestia: de malha com mangas curtas, listrada em vermelho, azul marinho e branco e com a marca bordada discretamente no peito (não farei propaganda aqui!). Já estava quase desistindo, quando finalmente nos esbarramos e, naquele escuro (que dessa vez não fora proposital), nossas mãos se tocaram, como se tivessem a necessidade de reconhecer alguém que estavam ávidas à procura. Uma espécie de encontro predestinado, entendem?

E dentro da magia daquele encontro, resolvemos ir embora juntos. Caminhamos bons quilômetros falando sobre tudo: trabalho, família, pretensões e decepções amorosas, futuro... Combinamos de nos ver dias depois. E, eu, que morava na zona oeste da cidade (Campo Grande), sugeri que nos encontrássemos na zona norte (Madureira) - e que tempos depois descobri que ele detestava o lugar kkkkkk. Um aparte explicativo: Madureira é um bairro completamente contramão de onde morávamos. Partimos à uma pizzaria do shopping (e que recentemente, dez anos depois, sentamos em frente à ela para comemorar nosso aniversário) e sem nos tocar em público, namorávamos com o olhar. Era tudo tão diferente de tudo, de todos... e tomado por um súbito impulso fiz um pedido: “quer namorar comigo?” e com um sorriso no rosto recebi um “Sim, porque não?”

O primeiro ano foi um dos mais difíceis. Eu era a perfeita incorporação da Paula (personagem da Carolina Ferraz na novela). Possessivo, chato, controlador. Não acreditava nas suas infindáveis reuniões de trabalho, queria atenção 24 horas por dia. Já estava prestes a instaurar uma crise que certamente culminaria com o fim da relação quando aconteceram duas coisas muito boas profissionais pra mim: fui promovido na empresa em que trabalhava há anos e ao mesmo tempo fui empossado em um cargo público. Minha euforia deu um freio naquele comportamento inseguro e comemoramos a valer pelas semanas seguintes. A calmaria voltava, quando eu, por questões minhas decidi que precisaria me afastar, pedindo o fim do romance. Também lembro como se fosse hoje: estávamos em uma lanchonete discutindo os “meus porquês” para justificar aquele término e as lágrimas rolando de ambos os rostos, sem poder nos abraçar ou nos afagar em público. Era angustiante, pois nossos corações já estavam entrelaçados. E ali, tive minha maior prova de amor. “Sim, vamos enfrentar o que for juntos!” – foram as palavras que ouvi. Chorei mais ainda e ali, tinha certeza de que aquela era a pessoa que sempre procurei.

Nestes dez anos de convivência, claro que tivemos pequenas rusgas, e até brigas. Mas eu me arrisco a dizer que foram menos de 5 discussões realmente sérias. Mesmo sendo tão diferentes, dificilmente nos desentendemos. Pelo contrário. Nos percebemos pelo tom da voz, pela forma de olhar e até mesmo pelo jeito de andar. Falar de histórias vividas nestes dez anos é ser repetitivo pois temos, literalmente, uma rotina de comercial de margarina (graças a Deus!). Dizem que falar de amorzinho perfeito em público e para o público é querer afirmar algo que não é verdadeiro. Já eu, penso o contrário. Num mundo tão cheio de violência, egoísmo e ódio, propagar o amor é uma dádiva. É reforçar laços de que viemos nesse mundo para praticar o bem, a caridade e bons sentimentos. Nosso melhor hobby – depois de viajar, claro! – é deitar no sofá e fazer cafuné vendo TV, até que as pálpebras pesem e o sono tome conta do corpo. A sinfonia do ronco é suavizada pelos afagos contínuos nos cabelos e de uma música que elegemos como nossa trilha sonora:

“ Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias

A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez


Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você”

Amar é isso. É velar e orar pelo bem-estar do outro sem querer nada em troca. É se sentir bem com o bem do outro. É apoiar o sucesso e os projetos do outro. Um músico e um ator. Um jornalista e um advogado. Um Sagitariano e um Leonino. Um aparecido e um comedido. Um que cozinha e um que lava a louça. Um que gasta dinheiro com livros e outro com roupas. Um que gosta de rock e um que gosta de axé. Mas os dois gostam de samba. Os dois gostam de escrever. Os dois gostam de viajar. Os dois se ensinam e se apoiam mutuamente. Até hoje somos o mesmo casal bobo de 10 anos atrás. Até hoje, temos um dia eleito para o “jantar do amor”, onde cozinhamos e brindamos por tudo que juntos construímos e que ainda estamos aprendendo. E como aqueles casais emblemáticos das novelas que tanto amo, temos nossa trilha sonora (que ilustra o link ao final dessa narrativa). A letra da música é exatamente a história da nossa vida, da nossa rotina. É como se nela retratasse tudo que vivemos até hoje, o que temos vivido ainda e o que certamente iremos viver até o fim de nossos dias.

Nossas viagens, a compra do nosso apartamento e os “openhouses” (que acontecem até hoje, pois nosso apê é pequenininho para receber tantos amigos queridos) e até o pedido de casamento quando completamos 10 anos de relacionamento foram e continuarão sendo disseminados em imagens e vídeos. Os supersticiosos (sim, porque além dos que não acreditam no amor verdadeiro e debocham que somos fake – coitados! -, existem os que tem crença em olho gordo), dizem para não fazermos propaganda ou expormos conquistas e planos, pois isso pode atrair más energias. Mas acho que nosso sentimento é tão forte que criou uma barreira que repele tudo isso.

Lembro como se fosse hoje, há dois meses, estávamos no topo da torre Eiffel, vendo Paris de cima, quando ouvi:
- Você está feliz?
- Sim, muito! – respondi com um sorriso no rosto e nariz vermelho do frio
- Mas você queria casar né?
- Sim. Mas eu entendo. Isso é uma mera formalidade. Já nos provamos tudo que precisávamos.
- Mas eu queria te dar isso...
E as suas mãos se abriram com um par de alianças!
O nariz a essa hora estava vermelho não só pelo frio, mas pela emoção conjugada às lágrimas que caiam incessantemente de meu rosto.
E num abraço apertado, sacramentamos ali nossa parceria e rezamos. E agradecemos.

Depois disso... bem... depois disso, voltamos à nossa rotina, aos cafunés depois de um dia intenso de trabalho, aos beliscões um no outro quando falamos alguma bobagem acompanhados de gargalhadas até a barriga doer. E aos abraços nos momentos de falta de estimulo no trabalho, em nossos projetos, ou mesmo uma tristeza do dia-a-dia... E é nesse abraço que me acalmo e me refaço. Como se fosse uma fonte de energia infindável que se renova e reforça cada dia que passa essa... HISTÓRIA DE AMOR...

Dedico esse capítulo ao meu grande e único amor.

Quer nos conhecer? Ouça e preste atenção nessa música do Renato Russo – O mundo anda tão complicado. Ela traduz em pouco mais de três minutos toda a nossa vida. Que seu dia e sua vida, caro leitor, se inunde de amor!





domingo, 18 de março de 2018

Minha Vida: Capítulo 6: "DEUS NOS ACUDA"


Em 31 de agosto de 1992, estreou a novela do “horário das sete” Deus nos Acuda, escrita por Sílvio de Abreu e dirigida pelo seu parceiro de longa data, Jorge Fernando, na Rede Globo . Eu tinha 12 anos, recém-completados e já ouvia os burburinhos de corrupção do Governo Collor. O então presidente, que iniciou seu mandato exatamente em 15 de março de 1990 estava, na época de estreia da novela, já com seus dias contados à frente da liderança da nação brasileira.

Fernando Collor foi o primeiro presidente eleito pelo povo desde 1960, quando Jânio Quadros venceu a última eleição direta para presidente antes do início do Regime Militar, que perdurou até 1985. Seu afastamento em 2 de outubro de 1992, foi consequência da instauração de seu processo de impeachment no dia anterior, seguido por cassação.

Para não me estender nessa narrativa, que é extremamente importante, mas que ocuparia grande parte da minha história (que neste capítulo tem muito mais o cunho de expor minha opinião como cidadão), relembrar que, eram tempos difíceis, onde o novo (em todos os sentidos, inclusive na idade) presidente, estava herdando uma inflação de dígitos, hoje inacreditáveis para jovens de 20 e poucos anos, na ordem de 1.972,91%.  A sua principal plataforma de campanha era o combate a esse crescimento e durante seus poucos dois anos de mandato, foi suficiente para fazer um belo estrago na vida de muitos brasileiros. Quem dessa época, não lembra do confisco às cadernetas de poupanças com depósitos bancários superiores a Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros) visando reduzir a quantidade de moeda em circulação? Mesmo sendo o confisco bancário um flagrante desrespeito ao direito constitucional de propriedade, o plano econômico conduzido pela então Ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello (sua prima) foi aprovado pelo Congresso Nacional em questão de poucos dias. Foram muitos escândalos envolvendo o governo, onde podemos citar que o estopim foi quando Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, revelou o esquema de corrupção que envolvia o ex-tesoureiro da campanha Paulo César Farias, entre outros fatos comprometedores para o presidente. Em meio à forte comoção popular, foi  instaurada uma CPI para apurar a responsabilidade do presidente sobre os fatos divulgados. Em 2 de outubro foi aberto o processo de impeachment na Câmara dos Deputados, impulsionado pela maciça presença do povo nas ruas, como o famoso movimento dos “caras-pintadas”.

Preâmbulo longo não? Contudo, importante para fazermos algumas alusões aos tempos que vivemos hoje.  Precisarei fragmentar (e muito) a minha narrativa, pois falar de política no Brasil é algo quase inconcebível de tantos exemplos. Vejamos alguns:

Candidato com cara de anjo, parentes no poder, fragilidades da sociedade como plataforma de campanha...

O que conquistou o eleitorado na cidade do Rio de Janeiro para escolher como seu atual representante era o “rostinho boa gente” de Marcelo Crivella (que graças a Deus consigo dormir tranquilo em não ter dado meu voto a esse senhor), tal qual o “galã boa-praça” Collor. Em seu primeiro mês, o referido prefeito (assim como Collor nomeou sua prima Zélia, para uma das principais pastas do Governo – o Ministério da Fazenda), intitulou seu filho, a quem chama carinhosamente de “Marcelinho”, como secretário chefe da Casa Civil do município. Nomeação, que graças a um dos raros momentos atuais de coerência do STF, foi suspensa com apoio da OAB/RJ. Coincidência, não?

Saúde e Educação eram os carros chefes de sua campanha, pautados em seu trabalho missionário na África do Sul e sertão brasileiro, como então bispo da Igreja Universal (aquela presidida pelo Bispo Macedo, quem vem a ser o líder religioso que iniciou seu império de enriquecimento nos lendários cultos no Maracanã, de onde eram levados sacos incontáveis de doações através de helicópteros e que vem a ser, por acaso, como quem não quer nada, seu tio e um dos acionistas do A.J. Renner, detendo 47,51% do capital social da instituição financeira, banco em que a prefeitura fechou contrato para créditos consignados aos seus servidores para os próximos dois anos). Pois bem, à menina dos olhos de sua campanha, foi destinado o corte de verba (não era incentivo?) da bagatela de 547 milhões de reais, só para a pasta da Saúde, no seu primeiro ano como gestor da cidade maravilhosa. Para esse senhor precisaria escrever um livro apenas do primeiro ano de seu mandato sobre todas as promessas não cumpridas ( e olha que já estamos no segundo ano!)

A poupança da Era Collor, transformou-se na Reforma Trabalhista e Previdenciária da Era Temer...

Difícil falar de um representante ilegítimo. Não foi eleito pelo povo, logo, não fará nada pelo povo. Como não vem fazendo. Os jantares e apoios comprados e que são largamente divulgados na imprensa (não só as ditas tendenciosas), até porque os seus assessores fazem questão de divulgar a quantidade de dinheiro que é “investida” para a compra desses apoios, dizem por si só. E o povo, que quase quebrou o país por causa do aumento de R$0,25 nas passagens de ônibus, se cala diante do roubo de bilhões da saúde, segurança e educação públicas. São escolas sem professores, hospitais sem médicos e sem remédios, pessoas morrendo numa guerra sem fim. E nós? Nós estamos sentados diante da emissora dita tendenciosa, consumindo seu produto e nos colocando num patamar de soberania e inteligência, dizendo o que deveria ou não ser feito nas redes sociais (tão somente nelas).

Nisso tudo, o que mais me espanta é o ringue montado nas redes sociais para falar que “esquerda é isso, direita é aquilo”. “Se você não apoia Temer, você defende o Lula ou a Dilma.” “Precisamos de intervenção militar.” “Quem é contra isso ou aquilo tem mais é que se f...” “Tantos morrem todos os dias, mas só porque era vereadora morreu que estão fazendo alarde.” “Os traficantes e bandidos tomaram o poder no estado”. Dentre tantas outras frases de efeito, cheias de razão e alimentadas por ódio. NÃO SOU DE DIREITA,e NEM ESQUERDA E SOU APARTIDÁRIO. Importantíssimo frisar isso. Não sou a favor de nenhuma ideologia, nem acho que Lula e Dilma são inocentes. Tenho a consciência tranquila que não contribuo para o fortalecimento do tráfico, pois eu não financio o produto que eles comercializam, como tantos que vomitam isso. E, creiam, não estou aqui para julgar os esquerdistas, direitistas, usuários de drogas ilícitas, estou aqui para contar uma resumidíssima parte do que EU VIVI E VIVO como cidadão nesse país e não quero ser contraditório à luz das palavras que profiro e do meu comportamento na sociedade.

A Constituição Federal me prevê direitos e deveres. Meus deveres estão sendo cumpridos. E meus direitos estão sendo tirados. São 27,5% da minha renda destinados ao IRRF. E esse dinheiro vai para onde? Para os jantares em Paris dos senhores representantes da sociedade brasileira, só para citar um debochado exemplo.

A abertura da novela “Deus nos Acuda” que dá título a esse capítulo, mostrava há mais de 20 anos atrás, um país afundado em lama, e retratava uma festa onde seus participantes eram os representantes políticos de uma sociedade que tentava se reerguer. Achava, aos meus 13 anos, que aquele era um recado aos políticos que viessem pós Collor, que a sociedade brasileira pedia um basta e não iria se curvar mais diante de tanta corrupção e impunidade. E hoje, escrevendo uma mínima parte de tudo isso que vivi e conto aqui, leio um noticiário revoltoso, onde aquele presidente que a sociedade destituiu como seu representante, está de volta como candidato (EHH! Ponto para a direita! Ou esquerda?). E é triste demais acreditar, que será possível ele ter uma quantidade expressiva de votos. Queria sinceramente acreditar que o ponto seria para a população, mas está difícil.

Meu texto é só meu, como todos os outros que escrevo em minhas redes sociais. E por publicá-lo, tacitamente, autorizo as pessoas a discordarem dele, criticarem e se posicionarem. Cada um tem suas ideias e ideais e não estou aqui para convencê-los de nada. Estou para desabafar. Como ser humano. Como cidadão brasileiro. Basta! Basta de hipocrisia! Basta de intolerância! Basta de violência! Basta de corrupção! Basta de querermos ser os donos da verdade. Vamos nos informar sobre fatos e dados reais antes de propagarmos informações enganosas apenas para nos mantermos no patamar da razão. O mundo precisa de tolerância. O Brasil precisa de conhecimento, pesquisa e leitura. Sobre a verdade. Sobre hu-ma-ni-da-de. E que Deus nos acuda...

domingo, 20 de setembro de 2015

"MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS": NÃO DEIXEM A NOSSA SENHORA DO TEATRO SEM CASA

Há alguns meses atrás, fiz uma postagem sobre a aula de teatro que transformara a minha vida. Não sabia até então, que realmente o teatro era algo imprescindível para mim. Até aquele momento, achei que era tão somente um sonho como tantos outros que movem nossa vida. Sempre tive certeza de que um dia faria teatro. A mesma certeza que me alimentou a seguir em minha vida acadêmica causídica. Essas sempre foram as minhas duas paixões. No fim do ano de 2014, conversando com umas das pessoas que mais sigo conselhos, depois da minha mãe, Marcos Araújo (sempre você!), resolvi que era hora de por em prática esse sonho. Agora, depois de tantas tormentas, poderia me dar ao luxo de substituir a palavra “objetivos” por “sonhos”. O teatro era um deles.

E nessa procura por um curso bacana, ouvi de um amigo, Rodrigo Guedes, ator que já está na estrada há algum tempo, o seguinte: “Já ouvi falar muito bem de uma escola chamada Nossa Senhora do Teatro. Confesso que não conheço, mas já me falaram muito bem dela.” Então, por curiosidade procurei na internet e achei o site www.nossasenhoradoteatro.com. Para minha sorte (ou destino) estava em época de inscrição para o curso de “Preparação do Ator”, quando arrisquei-me e graças a Deus, fui um dos selecionados.

Falar sobre o histórico de sucesso desse empreendimento artístico, é correr o risco de ser escasso em minhas palavras. Ou até mesmo injusto, se eu permitir que a minha pretensão seja suficiente para qualificá-la. Existem inúmeros “tratados internáuticos” que podem facilmente descrever o que significa aquele templo de arte. Inclusive, um dos dicionários virtuais mais sérios e famosos, tem essa descrição: https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_Nossa_Senhora_do_Teatro.

Pode parecer uma propaganda gratuita em um blog particular, e é. Não sou professor, não sou funcionário. Não sou garoto propaganda, nem membro de nenhum conselho da escola. Sou aluno ator de lá. Como todos os outros 300, que estudam comigo e em outras turmas e oficinas que a escola ministra. Com muito orgulho. Não pensei que um curso tão barato (financeiramente falando), tivesse uma proposta artística e cultural tão rica. Fui apenas para ter experiência de palco. E agora, há poucos meses de minha formatura, saio com mais um capítulo na minha experiência de vida.

Recentemente, republiquei a tal postagem baseada na obra do nosso professor/diretor Ricardo Andrade Vassíllievitch, “A Porta”, e uma pessoa escondida por um codinome “Sherlock Hommes” (que falta de imaginação), fez um comentário que preferi não excluir. Como meu blog é aberto, e aprendi nessa maravilhosa escola que nem sempre as críticas são boas, mantive. Recentemente, nessa mesma escola, que o colega virtual julga inapropriadamente, tivemos uma aula sobre a obra e carreira de Ariane Mnouchkine, artista que dá nome à um dos espaços em que são encenadas peças no teatro-escola.  Sua produções no Théâtre du Soleil são frequentemente encenadas em espaços diferentes como ginásios, celeiros, porque ela não gosta de estar confinada a palcos tradicionais ou ao palco italiano. Geralmente seus atores vestem o figurino ou colocam sua maquiagem em frente aos olhos do público. Seu trabalho de produção teatral tem como metodologia o processo colaborativo, que procura construir o espetáculo como resultado da interferência de todos os membros da companhia.

Isso tudo quer dizer o seguinte: a pessoa que não conhece a metodologia da escola a qual me refiro, não tem qualquer propriedade de julgá-la. Lá, aprendemos o coletivo. E nesse processo não há espaço para a tal arrogância mencionada pelo “contribuidor de opiniões virtual”. O que existe é a exigência pela disciplina e dedicação. Que muitas das vezes, quando temos o ego inflado (essa é uma das minhas patologias e que a escola tem ajudado e muito a mudar), nos sentimos no direito de classificar de forma totalmente deturpada.

Esclarecimento dado, voltemos à escola e sua atual situação, motivo deste post e de meu apelo. Há algumas semanas, a escola recebeu uma notificação de despejo. Em um período de 30 dias terá que se retirar do lugar que ocupa há cerca de cinco anos. Espaço conquistado pela sua pregressa história de sucesso e inclusão social. Espaço que a fez receber em 2009, dois importantes prêmios: o título de Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura e pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e o prêmio UNICEF “Tempos e espaços para aprender” ficando entre as 20 melhores Instituições culturais do Rio de Janeiro, só para citarmos alguns.

A possível saída daquele espaço físico, não mata apenas o sonho dos seus colaboradores, professores, diretores e principalmente alunos. Mas é, mais um, soco no estômago dessa sociedade tão faminta de boas iniciativas de cultura inclusiva. Lá temos todas as classes, mas principalmente e precipuamente, os que menos tem condições de pagar um curso desses, na maioria das vezes tão caro. O poder público não nos dá o direito de aprendermos na escola, como a própria Europa o faz, e ainda nos tira a possibilidade de fazê-lo, mesmo quando membros apaixonados pela arte, praticamente se doam para manter um projeto desse vulto.

Você que está lendo, não nos deixe sem casa. Ajude a compartilhar. Se mobilize conosco. Se mobilize por uma sociedade melhor. Ao pensarmos no fazer artístico e suas peculiaridades, podemos rapidamente identificar duas conexões com a causa inclusivista. E essa é uma das filosofias da NST. Primeiramente, seu desprendimento do rigor quanto a paradigmas pré-estabelecidos comentado anteriormente, abre portas àqueles cujo desempenho  é comprometido por algum tipo delimitação. Para se produzir uma obra de arte de qualidade, o artista não depende, necessariamente, de um traço ou de uma pincelada tão precisos e lineares como os de um projetista industrial. Existe espaço para o gestual, o aparentemente impreciso. Em segundo lugar, o campo das artes pressupõe a exposição, a relação direta entre o artista e seu público. Ao incentivarem iniciativas artísticas acessíveis , estamos, junto coma escola Nossa Senhora do Teatro, também colaborando para a disseminação de algumas das condições que, como vimos, dão sustentação a qualquer pretensão de se construir uma sociedade inclusiva.

E aí, leitor? Vai nos deixar sem casa? Faça com que essas palavras, mas principalmente, o trabalho da Escola Nossa Senhora do Teatro, chegue ao maior número de ouvidos e consigamos, juntos, continuar contribuindo para uma sociedade melhor. Viva a arte!

terça-feira, 28 de julho de 2015

Minha Vida: Capítulo 5: "VERDADES SECRETAS"

Antes de meu “CORAÇÃO DE ESTUDANTE” começar a tomar forma, como a alusão feita no último capítulo 4, algo remoía em minha cabeça de que aquele não era o momento dessa postagem. Não havia ainda o exorcismo das mazelas no meu renascimento. Minhas palavras até aqui foram tão doces, de tanta luta, de tanta coisa bonita. Mas sempre disse, desde o começo, que não queria ser exemplo de nada para ninguém. As circunstâncias é que tornaram meu relato belo e emocionante. Mas eu também tive e tenho, até hoje, meu lado punk. Então, “ANOS REBELDES” e “CORAÇÃO DE ESTUDANTE” foram arquivados para dar lugar às minhas “VERDADES SECRETAS”.

Adoro me sentir dono das rédeas e mudar as coisas ao meu bel prazer e interesse. Não gosto de ser dirigido ou chefiado por ninguém, tampouco aceitar críticas pelo que entendo que é o melhor. Eu me basto. “E isso basta”. Tal qual os autores de novela, que tanto amo. Acho admirável, às vezes, certos comportamentos intransigentes, petulantes. Dá um sentido de força, sabe? E assim foram algumas situações que aconteceram na minha vida. A candura do meu sorriso às vezes dá lugar a um olhar e sentimentos sombrios que eu mesmo tenho medo de revelar. Na verdade, a vida me faz ter que engolir imensos sapos, diariamente, para domar meu jeito impulsivo e sufocar minha vaidade aflorada. Por isso, hoje, aceito ser dirigido e chefiado. Muitas das vezes obedeço mesmo discordando. Faz parte do jogo da vida. Escolhi estar nele.

Mas não pensem que sou perverso, problemático ou mau caráter por isso. Basta lerem (ou relerem) os capítulos anteriores. Sou humano, apenas. Tenho defeitos (inúmeros). Falhas (infinitas). Segredos (ocultos). Como você que está lendo esse capítulo agora. Não pense que és melhor do que eu, porque irá ler parte de meus sentimentos ruins. Você: leitor, amigo, colega, curioso, seguidor, seja o que for, também tem as suas VERDADES SECRETAS. Aquelas que ninguém (ou quase ninguém) sabe. Então, esse relato é para pensares. Refletires. Para onde e para quem tens apontado seu dedo.

Em meio ao turbilhão de sofrimento que vivi em minha infância e adolescência, o sentimento mais purulento que senti foi a inveja. Sim. Era invejoso. Inclusive em 2018, um dos meus projetos é falar sobre os sete pecados capitais, de uma maneira que nem nós percebemos que essas atitudes habitam em nosso dia-a-dia. Eu era feio, preto, pobre, cicatriz no rosto, pernas tortas, cabelo crespo e sem corte, corpo magro demais, testa grande demais. Enfim, um monstrinho... Me pego sorrindo debochado no momento que escrevo isso. Mas é a mais pura verdade. Nunca fui uma criança bela. Invejava meus irmãos por isso. Vítor e Felipe sempre foram bonitos. Sempre recebiam elogios dos outros. E eu não. Puxei todas as características ruins do meu pai. Minha mãe tinha cabelos lisos e olhos verdes. Queria ser como ela, mas foi meu irmão mais velho quem herdou esse DNA. Como uma pessoa cheia de defeitos poderia ter nascido regido pelo Sol, signo de Leão? Um dos mais vaidosos do zodíaco? Crendo ou não em astrologia, tenho quase todas (senão todas) as características desse signo.

No colégio, detestava os garotos que eram mais belos que eu e que faziam sucesso com as meninas. Mais bem vestidos e que tinham dinheiro para comprar lanche. Queria ser como eles. Ter o que eles tinham. Queria aparecer de qualquer maneira e, na maioria das vezes, era achincalhado. Crianças são puras de sentimentos. Tão puras que são cruéis. Não tem limites sobre a força de suas palavras se não forem educadas para isso. Humilham sem dó. E eu fui muito humilhado. Minhas roupas escassas e meu único kichute (aquele sapato preto de travas, que trançávamos no calcanhar) eram repetidos em várias ocasiões: festas de aniversário, festas da escola, formatura... Sempre o mesmo sapato. E eles reparavam. E zombavam. Até que um dia, minha mãe que passava roupa para umas senhoras da minha rua para completar o dinheiro das despesas, ganhou uma bolsa cheia de roupas e sapatos. Nela tinha um bamba!!! Aqueles tênis brancos que faziam contraponto aos kichutes antigamente (leia-se: pobres=kichute, riquinhos=bamba)? Bingo! Agora eu iria ostentar um bamba no colégio! Só que o tênis era dois números maior que o meu. Frustração. Eu tinha que usar aquele tênis de qualquer jeito e minha mãe já sabendo das minhas intenções me preveniu: “Nada de usar isso pra escola garoto, vai ficar parecendo um palhaço!” Eu contrariando, acordei mais cedo um dia, enchi o tênis de papel higiênico e pus o calçado. Dito e feito! A primeira frase que ouvi foi da professora: “Nossa, tão pequenininho com um pezinho tão grande!” Até hoje não sei se ela disse aquilo porque algum colega já tinha debochado e, de uma forma doce quis me alertar para não repetir aquela atitude... O fato é que senti minhas orelhas queimando e com uma vontade imediata de ir embora. Realmente eu estava igual a um palhaço. Que ódio! Acho que se eu fosse a “Karry, a estranha” (se é que eu não era mesmo em aparência), teria feito aquela escola explodir com a força do pensamento...

Já na adolescência, teimava em ter o cabelo cacheado com gel (ridículo) e achar (mais ridículo ainda) que eu era gostosinho no colégio. Puberdade, conflitos de adolescentes, minha personalidade ia piorando no que se tratava um outro pecado: a vaidade. Ela alimentava, mesmo que indiretamente a minha inveja. Estava em outro colégio, com outros garotos bonitos, de boas condições. As meninas andavam atrás deles e eu, atrás delas. E deles. Querendo fazer parte de uma turma que me rejeitava a todo tempo. Então comecei a fazer coisas erradas. Fumei cigarro aos 13 anos escondido. Envolvi-me com as pessoas erradas do colégio e comecei a me tornar problemático. Como estava morando com minha madrinha, ela não tinha acesso às besteiras que eu fazia e nem as suspensões que tomei. Rs... Inclusive, ela saberá somente agora, junto com vocês, lendo esse post. Não tinha responsável legal que respondesse por mim. O risco de ser enviado ao Conselho Tutelar, nem passava pela minha cabeça, já que não conhecia sobre o assunto.

O segundo grau chegou e com a aparência um pouquinho melhor, consegui “ficar” com umas três meninas do colégio. Nessa época já tinha retomado minha responsabilidade com os estudos e voltei a me destacar pelas boas notas. Até que revelei ser virgem, aos 15 anos. De novo virei alvo de chacota de muitos e me bloqueei. Vivi dos 16 aos 18 anos uma vida sexual para ninguém por defeito, digna dos grandes trabalhadores da profissão mais antiga do mundo. Só não me prostitui, mas aprontei bastante (muito mais do que possam imaginar). Comecei outras descobertas sexuais que me fizeram viver situações que só contei até hoje para a minha analista (eu acho que é a única pessoa no mundo que sabe de tudo, exatamente tudo que fiz até hoje) Saudades das nossas sessões, Maggy. Acho que não conseguirei nunca conversar com ninguém como fiz com você.

Há pouco mais de um mês, estreou a novela “VERDADES SECRETAS”, escrita por Walcyr Carrasco. Essa novela, embora rechaçada por muitos, nada mais é do que o retrato velado de muita gente. A trama fala basicamente sobre o mundo da moda e o que as pessoas fazem para conseguir o que querem. Muitas não conhecem a palavra escrúpulos. A busca por uma aparência socialmente aceitável e sentimentos nada virtuosos compõem esse meu capítulo também. Exemplos ruins que a televisão dá? Não. Fumei o primeiro cigarro e me envolvi com a turma barra pesada da escola e resolvi por mim mesmo que aquele não era o meu caminho. A televisão não me deu esse exemplo. Pode até ser tendenciosa, mas nós, temos o livre arbítrio dado por Deus quando nos concebeu (ou quando evoluímos do macaco, herdamos seu instinto?) para decidir o que fazer. Teoria darwinista ou cristã, o fato é que qualquer decisão que tomemos está em nossas mãos. Ninguém te leva para o “mau caminho” se você não estiver pré-disposto a andar nele. Todos nós temos nossos segredos, que estão guardados a setes chaves. Sujos, impuros, ocultos. A sociedade é assim. As pessoas são assim, não sejamos hipócritas. Hoje as mesmas pessoas que falam em nome de Deus, são intolerantes com o próximo. Não sabem o significado da palavra amor, na sua essência. Se estas mesmas pessoas analisassem à risca os exemplos dados por Deus, estariam, no mínimo se autoflagelando para por em prática suas próprias condenações.

O trauma dos sapatos me fez ficar compulsivo por roupas e calçados. Hoje tenho quase 100 pares. Roupas... não tenho nem como contabilizar, realmente são muitas. Já me perguntaram se eu era uma centopeia por ter mais de 50 pares de meia e 60 cuecas. Mas constantemente tomo a mesma atitude que a tal senhora fez com a minha mãe: doo roupas e sapatos. Transformei a minha inveja e vaidade em catapulta para que conseguisse tudo que não tive. E que esses sentimentos pudessem refletir em boas atitudes e ajudar a quem, como eu no passado, precisa de pouco. Resolvi estudar mais e continuar chamando atenção dos outros. De outra forma. Me moldando ou adquirindo talentos para brilhar. Me formei, estou fazendo minha segunda especialização e resolvi por em pratica, paralelamente, um plano do passado: fazer teatro. Não há lugar melhor para se ter atenção. Gosto de passar e ser reparado. Deixar o meu perfume no ar. Ser elogiado. Confesso que hoje, isso acontece com muito mais frequência do que antes. E eu gosto. Na verdade, eu tenho uma luta diária com a minha vaidade e meu ego. Hoje sou maduro e entendo que eu não sou o único no mundo. E muitas das vezes esses elogios podem não vir. Posso passar despercebido. E não será por isso que vou fumar, me drogar, desmoralizar e expor a minha vida. As pessoas precisam umas das outras. Não onipotente como eu gostaria de ser. Preciso de carinho para ser uma pessoa melhor. Preciso que a sociedade me aceite e me respeite, minimamente. Para isso, preciso me adequar a certas convenções. Nem sempre a rebeldia é o melhor caminho. Não sou mais adolescente, embora continue problemático e cheio de conflitos. Ver e ler diariamente sobre o sofrimento alheio me faz entender que o que passei não foi nada perto de tantas desgraças que outras pessoas vivem. Que não sou nada.

A minha mudança toda foi pautada em uma tentativa incessante de me aprimorar. De me reinventar.  De ser feliz. E vou vivendo. Às vezes, até sem rumo, pois faço milhões de coisas ao mesmo tempo e muitas não tendo nada a ver umas com as outras. Mas vivo. E quando estiver mais velho vou dizer: vivi, amei e fui feliz. A vaidade está estampada nas minhas fotografias. Mas por debaixo delas e no “tal ao vivo” estão ainda a minha cicatriz e meu cabelo crespo, agora ralo pela calvície. Meu rosto, dá sinais dos meus 35 anos, quando a pele naturalmente vem perdendo seu viço.

Sabe o fio condutor da minha história? Aquele do começo? Ele está intrinsecamente estampado nesse relato. Sempre vivi por e para o amor. Sempre fui intenso. Agressivo. Louco. Vaidoso. Dramático. Histérico. Extremo. Quem me conhece sabe.  A maior dificuldade de todos nós é conseguirmos canalizar tudo isso para uma coisa boa. E tento diariamente buscar isso. Reconhecendo meus próprios erros e tentando, mesmo com insucessos, consertar o que fiz de errado. Respirar fundo e aceitar uma ordem sem contestá-la. Mergulhar com tubarões. Entrar em jaulas de leões e tigres. Fazer photoshop . Ir à praia e fazer marquinha de sunga. Ficar pelado na frente do espelho, ou mesmo na Marquês de Sapucaí, ao lado de corpos perfeitos, ligar o “foda-se” e me admirar com todos os meus defeitos. Aceitar minhas rugas, manchas, imperfeições e cicatrizes. Me abrir e me fechar. Abrir minhas verdades secretas por mais bobas que sejam e exorcizá-las. Pegar as outras que não prestam, mantê-las guardadas em uma caixa, pedir perdão a Deus, à Buda, à Oxalá, ou a quem creia e cremá-las.


E os detalhes das “VERDADES SECRETAS”, onde estão? Rs... Isso meus queridos leitores, talvez sejam publicados no meu livro da vida... No alto dos meus 70 anos quem sabe...

quinta-feira, 4 de junho de 2015

"QUANDO O CORPO FALA : UMA AULA DE TEATRO VISCERAL"


Sala totalmente escura. Deitado no palco... Ao meu lado muitos corpos imóveis. De repente uma música instrumental começa a tocar e gradativamente seu som se eleva, até que não conseguimos mais ouvir a respiração do colega que está ao nosso lado de tão alta. A música? Coincidentemente ou não, é uma das que fazem parte da trilha sonora da minha vida: “Viva la vida”, unicamente interpretada por uma banda que amo de paixão, Coldplay.

A porta... eu e porta...Nós e a porta....

A porta da libertação. Das amarras. Na semana passada, na aula de técnicas corporais, com o sensacional professor Jefter Paulo, resolvi deixar parte da minha racionalidade de lado e tentar, de fato, entrar nesse mundo que alimentei por anos em meus sonhos: o teatro. Afinal, para que me propus em estar ali? Para que passar por um processo seletivo depois de 35 anos de idade e uma vida profissional e financeira que posso considerar estável? Para simplesmente estudar uma ciência que amo e me privei por tanto tempo e por muitos motivos: dinheiro, vergonha, razão. E se não me entregasse no aprofundamento desse estudo, de que valeria essa experiência? A proposta era escrever em um pedaço de papel, algo que sentíssemos nojo em nós mesmos. A maior vergonha que tivéssemos dentro de nós. Ferir o músculo e deixar aparecer o bulbo do osso. Essas foram as palavras do professor. E então escrevi algo naquele papel que nem nos meus momentos de confissão, ao padre, tive coragem de fazê-lo. “Ação e reação”. A segunda atividade consistia em deixar o nosso corpo falar com uma atitude não ensaiada e estar pronto para qualquer reação do colega. E até agora, ainda, não entendi porque resolvi ter aquela ação. Ou melhor, eu sei sim. Queria chocar. Queria marcar minha presença ali. Fui questionado imediatamente pela outra professora, não menos sensacional, Luana Vitor, sobre o que me levou àquilo. Não soube responder ao certo. Ou neguei a mim mesmo o que acabei de confessar. Sim, a verdade é que eu queria, sim, chocar. Embora um dos coordenadores do curso, tenha dito na aula inaugural, que ali não era um lugar para terapia, foi disso que me serviu. Estou me conhecendo, como humano, perfeito à imagem de Deus e também, contraditoriamente, falho. Eu não quero ser apontado, mas aponto. Eu não quero ser julgado, mas julgo. Não gosto que me enganem, mas tentei enganar a todos e a mim mesmo com aquela justificativa pouco convincente. A porta...

“Eu sempre abri a porta, de qualquer jeito, não tinha consciência. Sem a chave...”

Mas voltando à aula de ontem. No anfiteatro escuro, não era aula de corpo, mas foi uma aula visceral. O professor era outro. E aos poucos vou percebendo o peso da palavra “monstro” tanto utilizada por ele para se referir respeitosamente aos seus colegas e justamente com ele percebo o que é ser um monstro no que se faz: Ricardo Andrade Vassillievitch. As carnes aos poucos começaram a ser abertas. Rasga-se a pele. Os músculos. Resisto em ultrapassar as barreiras e não quero permitir que o meu bulbo ósseo apareça, como o professor Jefter havia proposto. Já havia escrito no papel e ninguém precisava saber qual era o meu pedaço apodrecido. E talvez não irá. Criei coragem para olhá-lo e tentar mudá-lo. Sim, está sendo uma terapia. Também. O trilhar de um caminho que preciso concluir. Mesmo diante de tantas adversidades que vem se colocando ao longo dessa estrada. Nesse caminho está ela: a porta...eu e a porta...

“Agora faço com jeito... com destreza... Penso... Determino... Visualizo... Oro... Transcendo... Teatralizo... Exausto... Ahh...”

Percebi, agora e de verdade, que lá é outro mundo sabe? Ou pelo menos tem que ser. As pessoas não começam a rir da sua cara porque a sua roupa é diferente ou porque você não consegue ter o padrão que todos querem que você tenha... Ou pelo menos não devem fazê-lo. E você faz amizade sem perceber. E sem querer. Tenho minhas convicções, políticas, sociais e religiosas. Vou continuar defendendo o que acredito. Não preciso e não vou deixar tudo para trás por meus ideais. São coisas completamente distintas. Aliás, na contradição desse processo de autoconhecimento, um dos meus ideais é justamente o teatro. Que venham os desafios. Que eu me imponha, respeitando os outros. E que exija que me respeitem também. E que eu abrace. Abrace muito forte. E que eu não tenha vergonha. Que chore. Que me doe. Que me permita. E que abra meu coração para receber esses novos amigos e essas novas experiências. E que o teatro se apodere de mim e me faça ser, um dia, quem sabe, ator. De verdade. Aquele que sabe separar o personagem da vida real. Afinal, é por isso que estou na escola de teatro não é mesmo? Representar e sentir. Contradizer-me. E ao fechar das cortinas, ao retirar a maquiagem e depois dos aplausos, voltar a ser eu mesmo. E levar minha mensagem com o coração aos corações.

Pego minhas coisas, arrumo minha mochila. Despeço-me com um beijo e um abraço nos meus colegas. Digo um até logo. As luzes se apagam. O silêncio agora é para o descanso e a reflexão. Caminho em direção à minha casa. Deito na minha cama. Fecho os olhos e meu pensamento se remete àquele texto...

“Eu quero o aqui, o agora...
Acho que alguém vai entrar por aquela porta...
Está entrando, vamos ver no que vai dar.”

(*) os fragmentos em itálico fazem parte do texto “A porta”, Vassillievitch, Ricardo Andrade, julho/2007.

domingo, 15 de março de 2015

MAIS UM CARNAVAL...

E assim se foi mais um carnaval. Quase um mês depois, resolvi fazer minha postagem porque precisei descansar um pouco, por o sono e os sonhos em dia. E confesso que esse carnaval, foi realmente de sonhos. Quem vive da festa de Momo, ou para ela, como eu, sabe que o carnaval não se limita ao mês de fevereiro. Quem me dera poder viver e sobreviver dessa arte, dessa festa. Mas não é o caso. Não ainda, talvez...

Na minha tradicional postagem de fim de ano, em 2013, elegi o ano de 2014 como o ano da "celebração". Sobre 2015, cheguei à conclusão de que meu ano anterior tinha sido “visceral”. Foi realmente um ano de muitas mudanças, novos projetos, planos retomados... Mas não imaginei que esse carnaval seria tão intenso. E a tal visceralidade ainda estaria por se tornar mais viva...

Tudo começou, como sempre, em outubro, época em que a Cidade do Samba, aqui no Rio de Janeiro, começa a ser mais frequentada ainda. É nesse período que começam as inscrições para as escolas de samba para desfilarmos nos mais diversos segmentos e todos os sons se fundem: alegorias e alas coreografadas, alas das comunidades, o barulho dos ferros sendo soldados, martelos batendo nas madeiras para que meses depois, todas aquelas estruturas tomem forma de fantasia e sonho no maior espetáculo a céu aberto da Terra. Essa é a minha terapia desde que deixei de fazer análise.

Saio dos ensaios tarde, tenho que acordar cedo no dia seguinte para trabalhar, mas, mesmo estando exausto, estou feliz. Leve. Extravaso todos os meus aborrecimentos em prol da arte. Uma arte anônima e marginalizada por muitos. Mas que traz uma imensa felicidade a tantos outros que participam ativamente dela. E é essa ultima parte que, de fato, me interessa: o bem estar e a felicidade. Esse texto não tem cunho de crítica, de falar sobre uma escola ou outra, condenar ou ir a favor de um desfile ou outro. Esse texto é para expressar meu amor, em toda a plenitude por essa festa.

Mas esse carnaval... Bem, esse carnaval foi realmente visceral. Grupos no whatsup se formaram e se extinguiram. Amizades foram conquistadas, algumas descobri que não eram de verdade e outras, fortaleci. Foram tantos encontros felizes, que as barreiras da Sapucaí se romperam e trouxe comigo, pessoas que quero continuar trazendo. Amizades sinceras e momentos tristes que vivemos e conseguimos provar o quão unidos fomos. Isso não vai se apagar. Isso não vai ser esquecido.

Esse ano, depois de quase 10 anos de Sapucaí e 34 de carnaval (sim, porque gosto de carnaval desde que nasci) foi um dos mais especiais. E olha que foi a primeira vez que não estive desfilando no “Sábado das Campeãs”! Mas desfilei na minha escola do coração, a Mocidade Independente de Padre Miguel... E numa licença poética, me permito fazer um trocadilho:

“E eu fiquei
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval...”

Foi mágico ouvir os fogos na hora que a minha escola aportava na Sapucaí. Olhei para o lado e vi um amigo querido, Rogério, chorando. Chorei junto. Nos abraçamos. Era nossa escola! Renascendo... Tantas foram as críticas, tantos foram os insultos. Mas estávamos dentro de uma bolha, tal qual a imaginária que o nosso coreógrafo, Marcelo Sandryni, nos ensinou... Não víamos nada de ruim. Era uma energia tão boa, que saímos ovacionados da Sapucaí. Esse foi o maior prêmio. “A campeã voltou”, era o que escutávamos na passagem de cada setor. E era isso, só isso, naquele momento, que nos importava. 

Dias antes, vivi um dos momentos mais (senão o mais) felizes da minha vida, quando desfilei na Paraíso do Tuiti (vide a fot que ilustra essa postagem). E esse foi proporcionado por duas pessoas muito especiais pra mim: minha idolatrada coreógrafa Andréa de Cássia e um sensacional carnavalesco. Um “tal de” Jack Vasconcelos. Já havia ouvido falar em grandes estrelas da arte, grandes gênios do carnaval e suas figuras mitológicas. Sim, esses profissionais são quase mitos. Mas quando se tem a oportunidade de conhecer, de perto, pessoas como esses dois, eu me confundo sobre o que é de verdade um mito. As maiores estrelas não se põem por conta própria em um pedestal para serem adoradas, elas são postas por seus admiradores. Essa dupla é de uma simplicidade tão grande, que até hoje não consigo distinguir se essa maneira igualitária de tratar as pessoas consegue ainda ser maior que o talento inquestionável que eles tem. E juntos, são uma explosão. Até hoje estou tratando uma distensão muscular no ombro. Meu pescoço ainda tem marcas de queimaduras dos holofotes. E meu coração lhes será também grato. Mesmo que as dores passem, as marcas desapareçam, não serei mais o mesmo graças a vocês.

Resolvi retomar projetos de vida que estavam escondidos lá no fundo. Coisas que eu achava que não poderia fazer, foram resgatadas por vocês, Andréa e Jack, sem sequer saberem. Me ajudaram só pelo fato de me confiarem uma oportunidade a reviver sonhos que tinha enterrado na racional desesperança. E à vocês, mais uma vez, minhas homenagens e meu muito obrigado.

Esse ano me trouxe também um encontro de almas. Chama-se Denise Carla. Editora, fundadora, produtora, escritora, dona, presidenta e sei lá mais o que, do site “Papo de Samba” e do grupo carnavalesco “Me Beija Félix”. Por intermédio do meu fiel escudeiro Marcos Araújo, conheci essa mulher e seus "colaboradores-pimpolhos-amigos-familiares", que logo me acolheram e generosamente me deixaram fazer parte daquela família. Não podia ser diferente. Para estar entre os amigos dela, tinham que ser pessoas especiais como ela. Que o mundo se contamine de Denises. Esta sim, traz boa energia acompanhando seu corpo como se fosse nuvem. E chove em cima dos outros liberando um carga enorme de boas sensações.

Mas conheci outros amigos. Reencontrei alguns de anos anteriores. Os vi nus. Outros tão cobertos que nem o rosto reconhecia, pela tinta da maquiagem. Mas estávamos presos em sintonia pelo coração. Os que quero para sempre, já sabem de sua importância. Já disse isso a eles. Outros tantos, foram felizes encontros, que quem sabe, oportunamente vamos desfrutar de novos trabalhos juntos. Assim gira a roda do carnaval...

E vamos começar o ano, não é? Mês que vem retomo meu projeto e volto a escrever minha minissérie autoral. Ainda faltam cinco capítulos, mas há outros tantos a serem escritos e vividos. Há o desconhecido que ainda não vejo. Com ele, está, sempre, a minha esperança por dias melhores. Mas não vamos deixar o apito se calar. Não vamos deixar os tamborins sem fazer barulho. Daqui há pouco começa tudo de novo, mas antes de me despedir até o próximo "post"... antes de me despedir...

“Deixo ao sambista mais novo,
O meu pedido final:
Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...”


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2014, UM ANO VISCERAL . . . VEM 2015!

Mais um ano se finda. O ano de 2014 se despede e 2015 se apresenta com toda a sua imponência querendo que seus 365 dias, que virão pela frente sejam de muita força e fé. Esse ano resolvi fazer diferente. Não vou produzir o tradicional vídeo, mas eis minha mensagem, retratada nessa imagem. Então vamos lá! Primeiro olhem essa foto. Olharam? Agora olhem de novo! Ela foi tirada e produzida pelo badalado fotógrafo das estrelas Sérgio Santoiann. Ela simboliza apenas mais um anônimo que sucumbiu a arte desse brilhante fotógrafo. Uma sessão de fotos presente de uma pessoa muito querida. Para mim, ela representa os inúmeros gritos que dei, de inúmeras formas, nesse ano que passou. Foram sentimentos de alegria, tristeza, mágoas, decepções, realizações, “tapas com luva de pelica”, vingança, renascimento, introspecção, raiva, amor por mim e amor pela vitória dos meus. Sim, eu vivi tudo isso em 2014. 

Alguns projetos tive que deixar no meio do caminho, como o conto da minha história, no meu blog, que muitos aqui acompanham. Tive que parar no capítulo 4, por algumas situações particulares que vivi e me fizeram ficar de “standy by”, porém estou voltando com tudo. Nesse projeto e em outros que ficarão escritos em um pedaço de papel, como me ensinou uma pessoa muito especial, mas que só dizem respeito a mim. Quando realizados, vou divulgar. Com esse mesmo grito da foto. Visceral. Intenso. 

Este ano perdi pessoas muito importantes pra mim. E com essas perdas aprendi que, tenho que ser eu mesmo. Enquanto há tempo. Enquanto tenho tempo. Gosto e quero ficar nu. Ser admirado e mostrar meus tantos defeitos. Minhas manchas e cicatrizes, sem me preocupar se vão me olhar torto, com desdém, com deboche ou mesmo com desejo. Só quero ser eu mesmo. Amanhã, poderei estar com essas pessoas que perdi, “do outro lado”, e deixei de ter vivido minhas concepções e plenitudes em nome de uma máscara. De uma capa. Não vou ser inconsequente, nem inconveniente. Mas vou ser livre. Ser feliz. Vou me desapegar, literalmente, de coisas mesquinhas e tacanhas que não me levam a lugar nenhum. Não quero ser um senhor de idade frustrado. Quero mostrar através dos meus registros fotográficos e das minhas rugas, tudo que vivi. Sim, rugas. Não quero viver menos de 90 anos. Mas hoje, aos quase 35, já me considero maduro. Na verdade, eu nunca pensei que o amadurecimento e a idade mais avançada fossem capazes de me trazer novidades. Tinha medo de envelhecer.  Mas está sendo bom. Está sendo positivo, até. Tenho aprendido, aos poucos, a ouvir mais e falar menos. Ter humildade de reconhecer a incapacidade de realizar algo ou de assumir que não fiz alguma coisa, porque não deu, porque não tive tempo, ou mesmo porque não sabia. Melhor: aprendi a dizer “não”, sem aquele tom pejorativo de ofensa. Escrevo isso com total firmeza e nem um pouco preocupado em ficar piegas. É o amadurecimento que me permite isso.  Ele se dá quando a gente menos espera. Eu tenho considerado esse caminhar uma verdadeira conquista. Sei que é muito pouco ainda, mas é um começo. Um bom começo para escrever mais um capítulo da minha trajetória.  Quero brincar com o tempo. A cada ano que passar, me renovar. E quando muitos acharem que estou sem fazer nada, eu renasço como a ave mitológica que será tatuada em meu corpo este ano: a Fênix. Quando menos se esperar, me reinvento e volto a escrever meu blog. Volto a me tatuar. Emagreço. Raspo a cabeça de novo. Deixo minha barba crescer igual aos muçulmanos. Raspo a barba de novo. Publico fotos nú. Estudo. Mudo de emprego. Mudo de casa. Pulo de asa delta. Mergulho novamente com tubarões ou entro nas jaulas de leões e tigres e os acarinho como se fossem felinos indefesos. Vivo. Simplesmente...

E como o tempo passa rápido sem que percebamos, é hora de deixar a tristeza de lado e seguir em frente. Aos que se foram, minha admiração e minhas saudades eternas. Aos que ficam, minha presença, meu amor e minha ajuda. Aprendi que tenho que perder tempo com os que estão aqui, precisando de mim e não com os que descansam ao lado do Pai. À eles, à noite, ou em outro momento qualquer, dedico minhas orações. Não quero curtir infelicidade e só acordar para o mundo quando tudo estiver estragado ou estragando. Ainda tenho muito a viver e não quero desperdiçar tempo. Então pessoal, é hora de começar a fazer! Por a mão na massa, colocar a saúde em dia e ser feliz a partir de agora para viver os 55 anos mais felizes da minha vida (sim, porque vou viver, no mínimo, até os 90, lembram-se!?).

Pensem nisso. Ainda temos tempo para mostrar e provar a nós mesmos que não desperdiçamos a nossa vida, trancafiados, imersos, escondidos nas tais capas. Ainda há muito o que se fazer e viver acertando com base no que já erramos. Então, deixe-me ir, escrever minhas promessas para 2015 porque o “tempo ruge e a Sapucaí é grande!” Feliz ano bom para todos, com muita luz, pieguice, plenitude, felicidade e sonhos que se tornem realidade!

E QUE VENHA O CAPÍTULO 5...